Os curdos são o maior grupo étnico
sem pátria no mundo. No Oriente Médio, a população curda chega a mais de 20
milhões, mas estes estão dispersos majoritariamente em 6 países: Turquia,
Iraque, Síria, Irã, Armênia e Azerbaijão. Só na Turquia, eles já são 20% da
população.
Os curdos têm sua própria língua,
sua etnia, mas a região que fundaram, o Curdistão, não é considerada
independente. Desde 1984, o PKK, Partido dos Trabalhadores
do Curdistão, luta por um território autônomo. No entanto, sofrem repressão
violenta principalmente do governo turco e do Iraque. Durante o regime de
Saddam Hussein, esta violência era implacável, mas com sua queda, eles
pretendem voltar a lutar por sua independência. Os curdos não são tão fortes que
consigam a independência de um país próprio em alguma parte das seis nações
pelas quais se distribuem, mas também não são tão fracos que possam ter as
aspirações nacionalistas suprimidas com facilidade. Eles constituem um grupo
cuja mera existência cria enormes problemas. A
Turquia, por sua vez, há 20 anos luta para não perder seu território para a
criação do Estado independente. Os curdos são vítimas de terrorismo e tortura,
além de serem deslocados de suas aldeias em alguns casos.
Durante
o período otomano (1945-1990), a Turquia preferia não se envolver com os
conflitos regionais que ocorriam nos países vizinhos. Em 1990 esta tradição foi
quebrada, quando o país se aliou aos Estados Unidos na Guerra do Golfo, e
facilitou as invasões ao Iraque. Eles também necessitavam fechar dois oleodutos
usados para transportar o petróleo iraquiano através do país até o mar
Mediterrâneo, de acordo com sanções da ONU. Com o emprego de 150 mil soldados
ao longo de sua fronteira com o Iraque e o fato de servir de base aérea e
militar para os americanos, a Turquia pretendia fortalecer seus laços com os
EUA, já que era uma época de incertezas para todos, com o pós-Guerra Fria.
Como
conseqüência da guerra, a minoria curda no Iraque se revoltou contra Saddam
Hussein e optou por fugir para as fronteiras com o Irã e a Turquia, ocupando as
províncias de Hakkari e Mardin. Em 1991, com a derrota do Iraque, iniciou-se a
revolta, mas esta não demorou a ser controlada. Isso impulsionou o êxodo de
quase toda a população curda do norte. A Turquia, então, fechou suas
fronteiras, levando um milhão deles a fugir para o Irã e outros muitos a
permanecer em campos de ocupação provisória. Neste momento, o drama da
população curda se tornou conhecida pelo mundo inteiro.
A
Turquia não queria receber os milhares de refugiados, mas ao mesmo tempo, era
contra a criação de campos permanentes por acreditar que viriam a se tornar
focos de movimentos nacionalistas. Eles viram o retorno deles ao Iraque a
melhor solução. Negociações com Inglaterra, França e os Estados Unidos foram
feitas, e uma zona protegida ao norte do Iraque foi criada. No entanto, Bagdá
impôs um bloqueio no norte, o que tornou os curdos dependentes economicamente
do Irã e da Turquia. Depois de muito impasse, as Nações Unidas concordaram que
a zona protegida deveria ter uma administração autônoma, embora isso não
garantisse a independência dos curdos.